Boletim Informativo do Programa Especial de Treinamento do Curso de Engenharia de
Telecomunicações da Universidade Federal Fluminense - Niterói - RJ
Número 1 - Dezembro 1997
Neste número:
O Programa Especial de Treinamento, PET, visa basicamente oferecer aos alunos um a formação global. As atividades do grupo vão desde o aprofundamento do estudo de assuntos que fazem parte da grade curricular do curso de graduação até o desenvolvimento de aspectos importantes para uma boa formação profissional, mas ainda ausentes no currículo - como apresentação de seminários, participações em congressos e atividades de comunicação.
O grupo, cujas bolsas são financiadas pela CAPES*, é formado por um professor tutor e professores colaboradores, além dos alunos bolsistas participantes. Para ingressar no grupo como bolsista, segundo regulamento da própria CAPES, o aluno deverá estar cursando o 2o , 3o ou 4o período do curso, não ter reprovações e ter até 22 anos.
O PET também tem por objetivo ser um grupo aberto, tentando contribuir na melhoria do curso de Telecomunicações de diversas formas, por exemplo promovendo palestras e cursos abertos a todos.
A criação do Espaço PET-TELE está dentro desta idéia de disseminação do conhecimento. Nele, serão divulgadas atividades promovidas ou não pelo programa, discutidos temas sobre nossa faculdade, a área de telecomunicações e outros que sejam relevantes e atrativos para os alunos. É fundamental portanto a participação de todos, professores e alunos, com proposições de temas e sugestões, para que este boletim informativo possa realmente consolidar-se como um espaço democrático e interessante.
CAPES* - Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
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Como parte da atividade "Análise do Currículo e Perfil do Engenheiro de Telecomunicações da UFF", em desenvolvimento pelo grupo PET - Telecomunicações da UFF , diversas palestras / entrevistas foram realizadas, com profissionais de empresas, professores e pesquisadores, a fim de colher diferentes visões do papel da faculdade e seus problemas, das mudanças ocorridas na área das telecomunicações no Brasil e no exterior dentre outros pontos levantados durante a atividade.
A seguir, algumas opiniões e considerações colhidas dos palestrantes / entrevistados sobre os seguintes temas discutidos durante as palestras: universidade, formação profissional, globalização, mudanças nas telecomunicações e alunos.
Os palestrantes estão listados ao final.
Observou que o tempo de maturação tecnológica vem diminuindo bastante, ou seja, produtos são desenvolvidos e rapidamente produzidos. Vê na abertura do setor o único caminho para o país, porém constata que já houve prejuízo no desenvolvimento de tecnologias nacionais por conta dela.
Eduardo
É contra a quebra do monopólio das telecomunicações por ser um negócio altamente rentável e porque os recursos da Telebrás são suficientes para investimentos na área, citando como exemplo os investimentos dos governos dos chamados Tigres Asiáticos nesta área.
Julius
Avaliou o processo de globalização como "...uma relação de dominação quando não é entre iguais...".
Renê
Sua visão é de que com a privatização no setor das telecomunicações, o crescimento do mercado de trabalho não será proporcional ao dos investimentos, pois a "inteligência" estará fora do Brasil. Para ele, haverá perda para a sociedade como um todo, pois, apesar da tendência de aumento da oferta, por exemplo, de telefones em egiões de maior renda e de celulares, a iniciativa privada não deverá investir em regiões mais pobres.
Gilberto
A EMBRATEL, atualmente empresa muito vulnerável à política e à burocracia estatal (é de economia mista), deve ser privatizada até o final de 1998. Porém, avalia que há alguns pontos a considerar: a empresa tem o compromisso de integrar o país, e como empresa privada, deve ser competitiva e ágil. Com capital privado estrangeiro majoritário, aumenta a facilidade de colocação de interesses externos em primeiro plano. Deve-se então apresentar um grupo regulador que defenda, por exemplo, a função social da empresa.
A universidade na Inglaterra dá uma "visão industrial", diferente da brasileira, que segundo o pesquisador oferece uma "visão mais acadêmica". Lá, todo o 2o grau é público e todas as universidades privadas. Alunos carentes recebem ajuda para cursá-las e pagam pouco a pouco depois de formados. O ingresso nas faculdades depende do desempenho no 2o grau.
No contexto da qualidade total, cita a importância de disciplinas ligadas ao tema "Compatibilidade Eletromagnética", estudando a interferência de aparelhos no meio externo e vice-versa.
Renê
Considera o curso de telecomunicações da UFF bom no que diz respeito às matérias "técnicas", apesar da falta de laboratórios. Porém, o curso se parece com um "curso técnico de 3o grau". Sua opinião é de que as disciplinas Filosofia e Português deveriam fazer parte de qualquer curso universitário. Citou a França, onde há Escolas de Engenharia (não são curso superior) e cursos universitários de Ciências, Filosofia, Política etc.
O professor vê a parte prática (de laboratórios) como interessante, mas lembra que geralmente engenheiros coordenam equipes e no máximo 10% deles lida diretamente com equipamentos.
Eduardo
O professor criticou a falta de professores de dedicação exclusiva, as aulas noturnas (pelo conseqüente menor rendimento) e a demora na atualização dos currículos.
Sobre o "provão", acha difícil "colocar 5 anos em uma prova" e que uma avaliação dos professores seria mais fácil.
Ele vê maior importância na teoria que no laboratório.
Julius
Considera uma boa base em Física e Matemática extremamente necessária à formação de um bom engenheiro. No ciclo profissional, o laboratório seria tão fundamental quanto a parte teórica. A presença de disciplinas como inglês, redação e formação de cidadania no currículo seriam também importantes.
Para o professor, realizar pesquisas e publicações, congregar conhecimentos e bagagem cultural fazem parte do papel da universidade. Ele apontou a grande burocracia para compras como a maior dificuldade estrutural da UFF, e que a existência de uma Fundação poderia melhorar essa situação.
Observou o excesso de horas de aula no curso de telecomunicações, onde "...poderiam ser seis cadeiras por semestre tranqüilamente...".
Lembrou que em diversos países há exames semelhantes ao "provão" para que o aluno receba diploma de engenheiro.
Gilberto
Comentou que o curso de Telecomunicações mescla bem pesquisa e mercado de trabalho, estando próximo das transformações na área pela atualização constante das matérias optativas.
Na década 90, vem sendo dada grande importância ao conceito de redes e à informática; Citou o hábito pela pesquisa como uma das vantagens de cursar pós-graduação.
Gilberto
Falou da grande necessidade atual da interdisciplinaridade (não ser "puramente técnico").
Paulo
Citou como vantagem da área comercial o contato tanto com vendas quanto com a área técnica; Falou da importância da versatilidade do engenheiro, citando a informática, o inglês ("meia faculdade") e o espanhol ("desejável para o Mercosul");Destacou as empresas públicas como, em geral, os melhores lugares para estágios.
Julius
A "possibilidade da investigação" foi sua principal motivação para ser pesquisador, uma atividade não muito valorizado pela sociedade brasileira; Criticou os estágios, que em sua maioria oferecem poucas chances de aprendizagem; Considera importante a iniciação científica, útil mesmo para a formação dos que não optem pela área de pesquisa. Lembrou também o valor do histórico escolar em qualquer processo de seleção (tanto em empresas, quanto para bolsas de mestrado).
Enfim, também foram citadas por Julius: a pós-graduação como um grande diferencial e a necessidade do engenheiro saber programar em várias linguagens e trabalhar em equipe.
Ressaltou a importância dos diretórios acadêmicos e da discussão política na universidade e condenou o que chama de "pacto de mediocridade": o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende.
Julius
Criticou a falta de cobrança dos alunos para um melhor funcionamento da universidade, citando a falta de atuação do diretório acadêmico e a passividade dos alunos diante dos professores que faltam seguidamente, dos que não cobram e nem ensinam adequadamente.
Relação dos palestrantes / entrevistados:
Cláudio Lima | Pesquisador e professor da UNICAMP |
Eduardo Vale | Divisão de Recursos Humanos da EMBRATEL e Professor do Depto. de Telecomunicações da UFF |
Gilberto Viana | Depto. de Telecomunicações da EMBRATEL e Professor do Depto. de Telecomunicações da UFF |
Julius Leite | Professor da pós-graduação em Computação Aplicada e Automação (CAA) da UFF |
Marcos C. N. Cordeiro | Gerente Técnico da Assistência Técnica do Sistema Celular da TELERJ |
Paulo Coutinho | Empresa ANRITSU, Engenheiro formado na UFF |
Renê Pestre | TELEBRÁS e Professor do Depto. de Telecomunicações da UFF |
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É muito difícil dizer o que estou sentindo agora além do sentimento de covardia que me assola por minha própria imperfeição. Parece que tive a chance entre as minhas mãos e deixei-a escapar por caprichos ou vaidades de uma sociedade hipócrita, medíocre e ultrapassada, não no sentido de que eu seja ou esteja avançado em relação a esta sociedade - até porque faço parte dela - porém muito mais por ela insistir em continuar arraigada em conceitos errados e falsa moral.
Extravasa-me o intuito de querer consertar o mundo - como, se eu sou uma das peças mais defeituosas da engrenagem? Quero deixar claro que não sou melhor que nada ou ninguém, todavia é impositivo perceber que não desejo continuar coadunando com fetiches da Idade da Pedra; meu cérebro reclama inovação principalmente na alma, em seguida no cérebro, consequentemente traduzido em seguida pelos impulsos físicos de ação em busca da evolução para melhoria e não para outro caminho, pois não há mais tempo para conviver com a consciência do erro e percebendo-se conivente com tal leviandade, achando que esta falta é normal - pode no máximo ser comum, já que normal é tudo aquilo que é saudável.
Recordo uma das afirmações do Ilustríssimo Senhor VILLAS BOAS CORRÊA, em relação ao Congresso e às reformas políticas urgentes a serem implementadas: "Império da madraçaria", foi este o termo utilizado por ele para o Congresso, e isto me chocou. De pronto entendi o motivo: eu era tão preguiçoso e egoísta quanto eles... Tocou-me profundamente tal colocação, porque transpassou o meu entendimento, minha (in)consciência adormecida. Por isso peço a toda população, fuja desta anestesia cultural da qual todos se encontram, tornemos imediatas nossas propostas de suposta evolução. Porém deveremos agir de acordo com elas, atentos sempre que necessário a toda possibilidade de mudança, como por exemplo a Globalização, imposta pelos países "desenvolvidos" e aceita pelos natos subdesenvolvidos. E a cada fração de segundo que me mantenho inerte, percebo a imensidão de tempo que ficou para trás.
O motivo deste texto foi em razão da falha que cometemos a cada eleição, reelegendo os diretamente culpados, e somos cúmplices, por isso devemos saber do passado de cada político que desejamos favorecer com nosso voto, e caso ele esteja cumprindo no presente com o seu mandato, saber o que ele está fazendo pelo povo e para o povo. Esta última sentença parece besteira.
Alexander B. Sant' Anna (aluno)
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Este espaço é composto de um resumo de artigos retirados de jornais e revistas que sejam de interesse do estudante, podendo tratar de temas ligados às telecomunicações diretamente, às universidades e à formação dos estudantes ou ainda de problemas e realidades do país. Os artigos estão especificados ao final do texto e podem ser encontrados na íntegra na pasta do PET - Tele na xerox da engenharia, pasta 218.
Os artigos tratam, entre outros assuntos, de um tema que infelizmente não é recente mas que não deixa de ser um dos mais urgentes no país: o comprometedor estado do nosso sistema educacional e seus resultados na economia.
Para uma análise do crescimento da economia, levar em conta a quantidade e a qualidade dos investimentos em capital "físico" não é suficiente. O lento crescimento de vários países subdesenvolvidos em contraste com a rápida recuperação das economias européias e do Japão após a II Guerra convenceu economistas de que o investimento em capital "humano" deve ser igualmente prioritário, principalmente quando o "aprender a pensar" fica cada vez mais importante que as habilidades repetitivas ou manuais.
Para ilustrar o "progresso" brasileiro na área, um dado interessante é a taxa de redução do analfabetismo no Brasil e em países emergentes (incluindo o Brasil) no período entre 1976 e 1995. Segundo o IPEA *, enquanto aqui o índice de analfabetos caiu de 24% para 17%, ele passou de 20,4% para 9,5% nos países emergentes, em média, no mesmo período, demonstrando a lentidão da melhora brasileira.
Decorrente de diversos fatores, a alta taxa de repetência (18% no ensino fundamental e 11% no secundário contra respectivos 10% e 9% dos países emergentes) é um dos graves problemas da nossa estrutura educacional e ajuda a aumentar ainda mais o índice de desistências, fazendo com que o número médio de anos de estudo do brasileiro seja de 3,9 anos ** (!!), somente superior na América Latina ao do Haiti, país com renda per capta cinco vezes menor que a nossa. Este baixo nível de escolaridade é incompatível com a busca de maior competitividade externa (fundamental no processo de globalização da economia) e deixa à margem dos novos processos produtivos um imenso número de trabalhadores, "condenando-os à impregabilidade".
O artigo 2 avalia que o problema não está no subinvestimento estatal na educação, mas na "produtividade" desta verba, condenando o alto gasto com o setor público universitário em detrimento ao ensino básico e citando a grande participação do setor privado no ensino superior nos países asiáticos em desenvolvimento. No artigo 3, o professor Reinaldo Guimarães também julga correta a prioridade pela educação básica, porém considera falsa a colocação de "educação básica versus educação superior", lembrando as deficiências do setor privado de terceiro grau e a não disposição do governo em aumentar o componente social do orçamento.
O baixo nível de educação do povo é classificado no artigo 2 como o principal problema da economia brasileira a longo prazo, principalmente pelo fato de que os aumentos de produtividade tem total ligação com uma força de trabalho bem educada.
* Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
** Nações Unidas, 1992
Artigos:
- Ao Mestre com Carinho (1): Aloízio Mercadante - economista, professor de economia PUC/SP e Unicamp - JB;
- Educação: vergonha nacional (2): Conjuntura Econômica - agosto 1997;
- O ataque à pós-graduação (3): Reinaldo Guimarães - professor do Instituto de Medicina Social e sub-reitor de Pós Graduação e Pesquisa da UERJ - JB.
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